Quando
o assunto é higiene, os pais não titubeiam em manter a criançada sempre
limpinha e longe de qualquer porcaria. Afinal, para que correr o risco de
contaminação, né? Mas exagerar nesses cuidados também pode atrapalhar.
Alguns
especialistas chamam carinhosamente a sujeira de vitamina S, porque ela pode,
sim, enriquecer o desenvolvimento infantil e deixar as crianças longe de
doenças, ou mais fortes para enfrentá-las.
Os
micro-organismos espalhados pelos ambientes (vale para o tanque de areia do
parquinho, o campo de futebol ou o chão de casa) ajudam no amadurecimento do
sistema imunológico.
O
contato sensorial que a criança tem com os elementos envolvidos na “brincadeira
suja” estimula os neurônios a fazer novas conexões, o que favorece a
inteligência e influencia no aprendizado das emoções e aptidões.
Por
isso, da próxima vez que seu filho quiser pular naquela poça de lama, diga sim
e relaxe!
Mais
saúde
As
células de defesa do nosso organismo precisam de um incentivo para se
fortalecer e, assim, aumentar a resistência a infecções, alergias e doenças. “É
através do contato com os bichinhos invisíveis, na infância, que o corpo das
crianças produzem anticorpos para defendê-las de ameaças futuras”, diz o
pediatra Jaime Olbrich Neto (SP).
Aliadas
De
acordo com uma pesquisa realizada pela Escola de Medicina da Universidade da
Califórnia (EUA), algumas bactérias com as quais temos contato nos primeiros
anos de vida, e que acabam se alojando na nossa pele, podem nos ajudar na fase
adulta a ficarmos bem longe de uma série de infecções. Os cientistas
responsáveis pelo estudo afirmam que esses micróbios tornam o nosso sistema
imunológico “menos exigente”, amortecendo respostas como dor, inflamação ou
alergia. Só não vale exagerar, né?
Menos
inflamações
Outro
estudo, feito pela Universidade de Northwestern, também nos EUA, descobriu que
quanto maior o contato com agentes infecciosos antes dos 2 anos, menores são os
níveis da proteína Creativa (substância que está presente no sangue quando
existe uma inflamação ou infecção no organismo), na fase adulta. E mais:
o nascimento na época mais seca e cheia de poeira – que no sudeste do Brasil,
por exemplo, é entre maio e agosto, reduz os níveis dessa proteína em 30%.
Mais
inteligência
Engatinhar
num chão que você não sabe se está desinfetado ou colocar a mão suja de areia
na boca apavora muitos pais. Por outro lado, essas atitudes ampliam a percepção
de mundo das crianças. Ao explorar o quintal de casa, pegar uma minhoca ou se
lambuzar com a comida, por exemplo, o pequeno extravasa a criatividade e fica
mais esperto. “Os primeiros dois anos de vida são os mais significativos para o
desenvolvimento do cérebro. Metade do crescimento cerebral ocorre nesse
período”, enfatiza o pediatra Saul Cypel (SP).
Memória
afiada
O
bebê já nasce com o cérebro formado na área sensorial (visão, paladar, olfato,
tato e audição). Porém as habilidades motoras amplas (como andar) e finas
(pegar pequenos objetos) são adquiridas com o crescimento. As brincadeiras,
especialmente as que dão liberdade de movimentos, podem potencializar esse
desenvolvimento –quanto maior for o estímulo, maior será o número de ligações
entre os neurônios e o aumento da capacidade de aprendizado. Pesquisa da
Universidade Federal de Pelotas (RS), com crianças de 2 e 4 anos, mostrou que
as que têm contato com livros, visitam pessoas ou brincam em parques nos
primeiros 720 dias de vida apresentam melhores resultados em testes de memória,
inteligência e cognição.
Anticorpos
em ação
Nosso
organismo sabe o que é dele ou não. Quando invadido por um corpo estranho, o
sistema imunológico entra em ação para mandá-lo embora. É o princípio das
vacinas: um vírus suavizado é apresentado ao corpo, que mobiliza o sistema
imunológico
pra
se defender. Se a bactéria entrar novamente, o anticorpo será produzido
rapidinho.
Viva
a vitamina S!
“Seus
filhos precisam saber que se sujar não é trágico. Repreensão demais
transforma-se em emoções negativas.Broncas do tipo ‘não ponha a mão no chão’ ou
‘saia daí que é sujo’, podem levar à insegurança, ao medo e à timidez”,
diz a pediatra Milena de Paulis do Hospital Albert Einstein (SP). Veja o
que mais dizem os especialistas:
✔ A prova de
que a sujeira “faz bem” é que no hemisfério sul as pessoas apresentam muito menos
doenças autoimunes do que no hemisfério norte. Isso porque aqui temos mais
contato com sujeiras e bactérias. Portanto, não entre em crise se o seu filho
comer um biscoito que caiu no chão.
✔ Deixe o
pequeno se lambuzar à vontade durante a refeição. Ok comer com a mão: o contato
lúdico faz com que ele se interesse mais pelo alimento. Para a saúde não correr
riscos, lave as mãos dele antes das refeições.
✔ Ter contato
com sujeira não significa expor a criança a um local sem saneamento básico.
Nunca deixe o seu filho brincar próximo a esgotos ou mexer em fezes e urina de
animais.
✔ O bebê fez
xixi ou coco na banheira na hora do banho? A urina não tem bactérias – não há
problema, continue o banho sem se preocupar. Se a criança evacuar, também não
ficará doente com as bactérias e vírus do seu próprio intestino. Mas o
recomendado é retirar logo o baixinho da água e dar outro banho.
✔ Ao ver o
cachorro lamber o rosto do pequeno, não entre em pânico – limpe a região com
lenço umedecido. A boca do animal é contaminada, porém não mais que a
humana!
✔ Nada de
drama se ele pisar descalço no vestiário do clube. Depois, é só lavar e secar
bem os pés antes de colocar a meia e o tênis.
✔ Uma dieta
equilibrada, com muitas frutas, verduras, grãos, legumes e carnes, garante que
o seu filho se exponha com segurança a um pouquinho de sujeira.
fonte:revistaanamaria
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